sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O QUE HÁ DE BOM E O QUE HÁ DE MAU?


A certa altura da vida, a maioria das pessoas se torna consciente de que não existem apenas nascimento, crescimento, sucesso, boa saúde, prazer e vitórias, mas também perda, fracasso, doença, envelhecimento, decadência, dor e morte. Convencionalmente, esses aspectos são rotulados pela mente de "bons" e "maus", ordem e desordem. O "significado" da nossa vida costuma estar associado ao que consideramos "bom", porém tudo o que se enquadra nessa categoria está sob a ameaça constante do colapso, do esgotamento, da desorganização, da falta de significado e do "mau" - que é quando as explicações falham e a vida deixa de fazer sentido. Mais cedo ou mais tarde, a desordem irrompe na vida de todo mundo, não importa quantas apólices de seguro a pessoa tenha. Isso pode acontecer na forma de perda ou acidente, doença, incapacidade, envelhecimento, morte. Contudo, o surgimento dessa desestabilização e o resultante colapso de um sentido definido mentalmente pelo ego, podem se tornar a abertura para uma ordem superior de espiritualidade.
"Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus", diz a Bíblia.” O que é a sabedoria deste mundo? A agitação do pensamento e o sentido que é definido exclusivamente pelo pensamento sob o domínio do ego.
O pensamento isola situações ou acontecimentos e os chama de bons ou maus, como se eles tivessem uma existência separada. Por meio da dependência excessiva do pensamento, a realidade se torna fragmentada. Esse fracionamento é uma ilusão, contudo parece muito real enquanto permanecemos presos a ela. O universo, porém, é um todo indivisível onde todas as coisas estão interconectadas, onde nada existe de modo independente.
A profunda interligação de todos os eventos e de todas as coisas deixa implícito que os rótulos mentais de "bom" e "mau" são, em última análise, ilusórios. Eles sempre pressupõem uma perspectiva limitada e, assim, são verdadeiros apenas temporariamente e de modo relativo. Isso é ilustrado pela história de um homem sensato que ganha um automóvel caro num sorteio. Sua família e seus amigos ficam muito felizes por ele e chegam para comemorar.
- Não é ótimo? - diz um deles. - Você tem tanta sorte.
O homem sorri e responde:
- Pode ser.
Durante algumas semanas ele se diverte dirigindo o carro. Até que um dia um motorista bêbado provoca uma batida num cruzamento e o homem vai parar no hospital, com vários ferimentos. Ao visitá-lo, a família e os amigos comentam:
- Isso foi realmente uma infelicidade. De novo o homem sorri e diz:
- Pode ser.
Enquanto ele ainda está no hospital, certa noite ocorre um deslizamento de terra e sua casa é tragada pelo mar. Mais uma vez, os amigos aparecem no dia seguinte e observam:
- Não foi mesmo uma sorte você ter ficado aqui no hospital? Novamente ele responde:
- Pode ser.
O "pode ser" desse personagem sábio significa uma recusa em julgar tudo o que acontece. Em vez de avaliar os eventos, ele os aceita e, dessa maneira, entra em alinhamento consciente com a ordem superior. Esse homem sabe que quase sempre é impossível para a mente humana entender que lugar ou propósito um acontecimento que parece aleatório ocupa no trançado da totalidade. No entanto, não há eventos casuais, nada é por acaso, assim como nem as coisas nem os fatos existem por e para si mesmos de modo isolado. Os átomos que constituem nosso corpo foram forjados nas estrelas, enquanto as causas do menor dos eventos são virtualmente infinitas e ligadas ao todo de maneiras incompreensíveis pela mente humana. Se quiséssemos encontrar o motivo de um acontecimento, teríamos que percorrer o caminho de volta até o começo da criação do universo. O cosmo não é caótico. A própria palavra "cosmo" significa ordem. Mas essa não é uma ordem que a mente humana possa chegar a entender, embora consiga ter um vislumbre dela. No mundo das formas, nada realmente morre, tudo se transforma, tudo está ligado a tudo, somos todos um.

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Texto extraído do livro “O DESPERTAR DE UMA NOVA CONSCIÊNCIA” (Eckhart Tolle)

Um comentário:

  1. * Particularmente adorei este livro, abre-nos cortinas da mente...
    Recomendo!!!
    Beijos

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