sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Encerrando ciclos


Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final. Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver. Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos - não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.
Foi despedido do trabalho? Terminou uma relação?
Partiu para viver em outro país?
A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?
Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu. Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seu marido ou sua esposa, seus amigos, seus filhos, sua irmã, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.
Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco. O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.
As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora. Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem. Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração - e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.
Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se.
Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos. Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais.
Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do “momento ideal”. Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará.
Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade. Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante. Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida. Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é.

Viagem de trem


Felizes, ou às vezes meio apreensivos, em um lugar fora do espaço, em um tempo diferente, adquirimos a condição de comprar um bilhete de passagem para uma nova viagem, de trem. E o Dono do Trem nos desejou uma boa, feliz viagem!
Por vezes embarcamos num aerotrem, ultramoderno, portanto, mais confortável e mais rapidamente poderíamos chegar ao nosso destino...
Outras vezes, pegamos um trem mais lento.
Seja como for, sabíamos que toda a viagem fora meticulosamente programada.
E assim, pela porta do útero, começamos nosso percurso, na Terra.
Alguns de nós viajamos em cabines bem luxuosas, outros muitos da gente, quiçá, na categoria econômica: Não importa.
Nosso trajeto, por vezes atravessando longos túneis escuros, no entanto, rico, muito precioso em lindas e sedutoras paisagens ao sairmos do outro lado do túnel.
Deslumbramo-nos inúmeras vezes com a beleza, a natureza, o nascer e pôr-de-sóis que coloriam nossa viagem. Víamos à noite, lindas estrelas, luares... De dia, muitas cidades ricas ou pobres, grandes ou pequenas, montanhas, rios, florestas, matagais inóspitos, flores...
Cada um de nós passará por várias estações.
Mas, às vezes, por descuido, irresponsabilidade ou desatenção, nos veremos na contingência de ter que descer antes, bem antes do previsto.
No entanto, por adquirirmos certas qualidades, por estarmos sendo efetivamente úteis ao universo, conseguimos até um bônus, que nos permitirá seguir a viagem por estações outras, para nosso grande contentamento.
Quem decide isto é o “Dono do Trem.” E sua avaliação, extremamente justa porém flexível, é irrevogável, quando Ele decide. Ele realmente sabe das coisas. Acompanha, milimetricamente, cada passageiro, abençoando cada dia, cada vagão, cada criança, adulto, velhinho. Ele consegue mesmo estar no coração, na mente, em todo o ser, de cada passageiro... Ele tudo vê. Nada, absolutamente nada Lhe escapa. E Ele fala com cada viajante, intermitentemente, através da consciência de cada um.
Nesta viagem, estamos acompanhados de muitas pessoas: nossos pais, nossos filhos, nossos amigos... até com nossos eventuais inimigos, que também estão no mesmo trem, apesar de em vagões diferentes. Mas, querendo ou não, com todos eles estaremos em contato.
Na estação nº 24, portanto, quando tínhamos duas dúzias de primaveras, podemos encontrar alguém, que, recém subido no trem, veio sentar-se bem junto a nós... e conosco ele ou ela poderia ter seguido a viagem até o fim da linha ou... ter descido na estação nº 54, 86...
Quando não fora nós que descemos antes, porque naquela dada estação era o nosso destino...
Nesta viagem, por vezes os filhos avançam mais, viajam mais tempo que nós...
Mas, às vezes eles descem antes de nós...
Só quem vai saber, ao certo, é “o Dono do Trem.”
Ele é muito ocupado...no entanto, está sempre acessível a nós. Mas é dificílimo que Ele nos diga, quando, onde, como e em qual estação desembarcaremos...Para ter um “especial encontro” com Ele...que é dono de todos os trens do mundo e que nos disse que em Sua Casa há muitas Moradas...

Dentro do percurso desse trem, encontramos muitas coisas:
- nossa infância, nossa juventude, nossa maturidade, nossa velhice...
e em cada uma dessas estações, vivemos alegrias, tristezas, derrotas, vitórias, autosuperações, batizados, namoros, casamentos, dons, profissões, aniversários em cada estação...
Mas todos os passageiros têm um objetivo, ou uma missão, e devem desempenhá-la o melhor que possam, visando a chegada feliz, triunfal, ou a aquisição daqueles bônus...
Mas nem todos os passageiros sabem que devem chegar ao final da linha, íntegros, realizados, com a consciência tranqüila por terem conseguido viajar satisfatoriamente em todas as suas funções: pais, mães, filhos, tios, avós... amigos ou irmãos de seus companheiros de viagem.
Assim, se de repente há um solavanco no trem, acidentando-se, adoentando-se, levando por vezes um pequeno ou um grande susto na viagem, podem ter a possibilidade de corrigir a tempo seu comportamento. É quando podem ou não utilizar o perdão, a compreensão, mas, fundamentalmente, o Amor.
Uns aprendem, outros não, a ciência do bem viver na viagem.
Assim, uns são conduzidos imediatamente a descerem do trem, outros, por deterem ainda possibilidades de aprenderem e assim, autotransformar-se, tornando-se melhores, permanecem viajando. Outros ainda, mesmo grandemente machucados, seguem bem mais tempo, porque para eles assim estava reservado.
Durante esse percurso, todos nós vivenciamos inúmeras oportunidades que nos são oferecidas: muitas diariamente, algumas só em certas estações, outras ainda só em uma única estação... compete ao passageiro aproveita-las, ou não.
Sorrimos, choramos, caímos, levantamos, mas sempre estamos aprendendo a melhor viajar...
Haverá sempre uma nova noite, um novo dia.
Mas... Chega um momento que no nosso trem parou: Muitos dos nossos queridos podem ter descido antes de nós, outros continuarão, mas agora chegou a nossa vez: temos que descer, temos que chegar, temos que retornar ao encontro do Dono do Trem que, ao fim-de-linha nos aguarda, com Seus Mensageiros.
- Fez boa viagem, meu filho? - Ele nos indaga.
Numa enorme tela colorida, sentados com os Seus Mensageiros Especiais, vemos a retrospectiva de cada momento vivido no trem, de tudo o que fizemos, do que poderíamos ter ou não realizado, da felicidade do dever alegre e estoicamente cumprido, ou não...
E passaremos um tempo refletindo, revivendo, reavaliando, porque muitos de nós não encontrou “tempo” para fazer isto na viagem... e como houve tempo! E como houve travesseiros, filas, árvores, bancos de jardim, ombros amigos, momentos de rica solidão que poderiam ser cultivados, que sementes poderiam ter sido plantadas para frutificar no dia seguinte ou nas próximas estações, melhorando-nos, melhorando alguém...
Mas agora... Tudo o que desejamos é conseguir o suficiente mérito para adquirir um novo bilhete para uma nova viajem de trem... onde poderemos, sinceramente, do fundo de nossa Alma, reviver e reparar... alegrarmo-nos com o reencontro de um grande, incomensurável amor que perdura por séculos...
Ou também, pedir perdão com obras para aqueles que, infelizmente, deixamos para trás sem o lenitivo de nosso perdão, nossas preces, nossa solidariedade...
Porque as pessoas que nos acompanharam viagem afora foram todas, sem exceção, postas em nossa vida por DEUS, que, por Seus Mensageiros Divinos e Especiais, nos disse que somos todos irmãos...
Assim, novamente, encontramo-nos dentro da atemporalidade de um espaço sem fronteiras, como no início...E assim, desenvolvemos ainda mais a Gratidão.
Estaremos, semana que vem ou ano que vem, desembarcando desse “lugar” – que sabemos, é, foi muito lindo, inefável, todo-amoroso... para de novo pela porta de um acolhedor, amoroso útero, recomeçarmos nova viagem de trem. E dessa vez, mais uma vez, juramos à nossa consciência, em firme e belo propósito que haveremos de cumprir muito bem e melhor, nossas tarefas nessa viagem... E que, mesmo nos momentos de descanso, lazer, tudo faremos para cumprir, prazerosamente, o que nos foi cuidadosamente orientado pelo Dono de todos os Trens...
Que, também assim nos disse: “Se vives na feliz ventura do servir, serves à grande aventura do viver...”