sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O Pintor




Há muitos e muitos anos atrás, num certo país, vivia um pintor jovem e famoso. Ele decidiu criar um retrato realmente grandioso, um retrato vivo, repleto da alegria de Deus, o retrato de um homem cujos olhos irradiassem paz eterna. Assim, saiu em busca de alguém cujo rosto refletisse essa luz eterna, etérea.
O artista andou de uma aldeia a outra, atravessou selvas, em busca de seu objetivo, até que por fim encontrou um pastor de olhos brilhantes, com rosto e feições que continham a promessa de algum lar celestial. Um olhar bastou para convencer ao pintor que Deus estava presente naquele jovem.
O artista fez um retrato do jovem pastor. Milhões de cópias foram feitas e vendidas por toda parte. O povo sentia imensa gratidão só por poder pendurar a pintura em suas paredes.
Quase vinte anos depois, quando já estava velho, o artista decidiu pintar um outro retrato. Sua experiência havia lhe mostrado que a vida não é só bondade, que Satã também existe no homem. A idéia de pintar um retrato do diabo persistiu. Realizando o seu propósito, as duas obras se completariam e mostrariam um homem completo. Ele já retratara a divindade; agora queria retratar o mal encarnado. Saiu em busca de um homem que não fosse um homem, mas o próprio diabo.
Freqüentou covis de malfeitores, tavernas e hospícios. O tema tinha que conter fogo do inferno; aquele rosto tinha que mostrar tudo que há de mau, feio e sádico.

Depois de longa busca, o artista finalmente encontrou um prisioneiro numa cadeia. O homem havia cometido sete assassinatos e estava sentenciado à forca, dali a poucos dias. O inferno era evidente nos olhos do homem; eles esguichavam ódio. Seu rosto era o mais feio que se poderia encontrar. O artista começou a pintá-lo. Quando acabou o retrato, trouxe o antigo e colocou-o ao lado do novo para ver o contraste. Do ponto de vista artístico, era difícil afirmar qual o melhor; ambos eram maravilhosos. Ficou parado olhando os dois retratos. De repente, ouviu um soluço. Virou-se e encontrou o prisioneiro condenado chorando. O artista ficou espantado. Perguntou: "meu amigo, porque está chorando? esses quadros o perturbam?"
O prisioneiro disse: "tenho tentado todo este tempo esconder uma coisa de você, mas hoje não consigo. Obviamente, você não sabe que esse outro retrato também é meu. Os dois são meus. Sou o mesmo pastor que você encontrou há vinte anos atrás nas montanhas. Choro pela minha queda nestes últimos vinte anos. Caí do céu para o inferno, de Deus para o Demônio".
Não sei se essa estória é verdadeira, mas de uma coisa tenho certeza: a vida de cada homem tem dois lados opostos; é possível dois retratos de todo mundo. Em cada homem existe tanto Deus quanto o Diabo; em cada um há a possibilidade do céu e a do inferno. Um buquê de belas rosas pode brotar do homem tanto quanto um monte de lama pode acumular-se sobre ele. Todo homem oscila entre esses dois extremos.


Osho

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