domingo, 31 de janeiro de 2010

Os desafios da idade...



Nossa sociedade valoriza a juventude que esbanja força e beleza. Em contrapartida, a velhice é vista apenas como perda: da juventude, da saúde, do poder. Cabe a nós descobrir os tesouros que só podem ser alcançados na maturidade: autoconhecimento e sabedoria, frutos de humildade e intimidade com Deus. Na Bíblia, a longevidade é considerada um sinal da graça divina.
A aposentadoria pode ser encarada como um luto. Mas ela também propicia um tempo ocioso que abre espaço para o novo. É hora de colher os frutos plantados ao longo da vida e descobrir novos prazeres, como cuidar de um jardim, encontrar amigos, dar palestras, escrever um livro, pintar, tocar um instrumento, brincar com os netos, apoiar projetos sociais.
O jovem herói precisa vencer obstáculos externos. Na velhice, o desafio é interior: reconhecer nossas falhas. Os erros não assumidos são projetados nos outros. É sinal de maturidade parar de culpar os outros. Assumir a própria sombra é pré-requisito para uma velhice feliz, pois esta confrontação permite a mudança. O processo de transformação começa quando a gente pára de se justificar e admite nossa responsabilidade nos conflitos relacionais.
O conhecimento de si permite compreender os sentimentos do outro. Em vez de brigar com o outro ou desqualificá-lo, o sábio procura ser útil. O jovem busca soluções mágicas. Na maturidade, os meios são mais interiores. O conhecimento não é mais tanto de fórmulas, mas da alma humana. Uma trajetória profissional bem-sucedida começa com conhecimento técnico e termina com gerenciamento de pessoas. Nos contos, os heróis vencem os dragões lutando contra eles. Os velhos sábios substituem a força física pelo conhecimento. A sabedoria nasce da autoconfrontação. Ela implica enxergar além das aparências e vencer a própria maldade. Significa reconhecer o mal (ganância, inveja, orgulho, revolta, desespero...) com honestidade e humildade, o que permite identificar e perdoar o mal também no outro.
Outra tarefa da meia-idade consiste no desenvolvimento de interesses altruístas (o psicólogo Erick Erikson chama isto de generatividade). Significa transcender seus próprios desejos em favor de outros, estendendo os benefícios além da família. O egocentrismo é frustrante diante das perdas inevitáveis da idade. Na juventude, domina a ambição pessoal, na maturidade, o bem-estar social (Rockfeller ilustra bem este caminho, pois dedicou a primeira parte de sua vida a ganhar bastante dinheiro, e a segunda a projetos educativos e culturais). Generatividade e saúde mental caminham lado a lado. Na maturidade, o ser humano se volta para valores humanitários, religiosos e morais. Busca-se uma espiritualidade mais pessoal e relacional que religiosa (Michelangelo, Rembrandt e Tolstoi são exemplos famosos). A aceitação da morte também influi diretamente na saúde mental.
Outro desafio da maturidade é resgatar aspectos reprimidos da personalidade como, por exemplo, a ternura. Na idade adulta, é possível integrar a inocência da infância e a experiência da maturidade. Aceitar a sombra, compartilhar os recursos adquiridos ao longo da vida, recuperar a espontaneidade da infância, transcender a racionalidade, o egoísmo e as convenções sociais, são objetivos e frutos desta etapa. Tais elementos permitem que a idade adulta seja ainda mais apreciada e recuperam o encanto e o prazer da vida na capacidade de desfrutar das pequenas alegrias e maravilhar-se diante do mistério da vida.
Na juventude, o herói persegue o sonho da riqueza e do amor. Na maturidade, o desafio é transformar-se a si mesmo. Solidão, penúria, declínio e deterioração podem acompanhar a velhice quando abdica-se da vida, por desespero ou amargura. Mas existe a possibilidade de renovação do encanto através da autotranscendência e generatividade. O sábio exerce um papel de mentor, integrando ética ao conhecimento técnico, como Madre Tereza de Calcutá, que ajudou muitos jovens a transformar ideais em atividade útil. Esse papel é resultado de amadurecimento, e não somente efeito inevitável da velhice: um desafio e uma tarefa, não o simples acúmulo de anos. A felicidade não depende das circunstâncias. Ela é construída a partir de recursos próprios.

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