sábado, 16 de janeiro de 2010

As doenças da paixão




No clássico "A Montanha Mágica" Thomas Mann coloca na boca de um médico, o doutor Krokowski, palavras que se tornaram célebres: "Os sintomas da doença nada mais são do que uma disfarçada manifestação do poder do amor; toda doença é uma paixão transformada." Não se trata, propriamente, de uma afirmativa original; já o dissera o poeta alemão Novalis, no começo do século XIX: "Nossas enfermidades são resultado de uma sensibilidade exagerada."
Esta é uma idéia antiga. A medicina hipocrática fala dos humores, que governam o nosso temperamento e nos tornam sujeitos a certas doenças. Um destes humores é o sangue. A pessoa que tem temperamento sanguíneo é vivaz, cheia de energia. Mas se há excesso de sangue - a pletora - pode ocorrer uma apoplexia, ou seja, um acidente vascular cerebral de tipo hemorrágico. Pletóricos eram tratados com sangria, cujo objetivo era remover o excesso de sangue.
A medicina chinesa distingue entre as causas externas do doença (clima, alimentação) e causas internas, que são basicamente emocionais. Mais recentemente criou-se a expressão doença psicossomática, para designar aquela situação em que os problemas emocionais geram doença, através sobretudo do estresse - outro termo moderno, este cunhado por Hans Selye. Na Universidade de Washington foi organizada uma escala de estresse, com pontuação; um dos valores mais altos (73 pontos) corresponde ao divórcio.
Seja através dos efeitos somáticos (hormonais, imunitários) seja através das repercussões na mente, as paixões reprimidas, contrariadas ou mal-sucedidas adoecem as pessoas. Isto ficou muito claro à época do longo (1837-1901) reinado da rainha Vitória na Grã-Bretanha. Entre os vitorianos a repressão sexual, através de uma educação em que o castigo corporal era a regra, podia gerar perversões que às vezes chegavam ao crime, como o mostra a sombria trajetória de Jack, o Estripador.

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